Uma “sutil” violência: o que é assédio moral?

Hoje aqui no Superstorm, vamos abordar um conteúdo diferente, porém, que não podemos deixar de falar. Acredito que você como nós, também é sensível a este assunto, independentemente se você for homem ou mulher.

Estava com meus 19, 20 anos quando senti que já era mais do que hora de iniciar meus passos para jornada profissional. E assim eu fiz.

Não sabia muito bem por onde começar, mas sabia que nos jornais havia caderno de empregos. Então eu comprava no domingo e lia, relia, voltava pensando: “Será que eu sirvo para essa vaga?”

A maior parte do medos que eu sentia envolvia questões ligadas a ser uma boa profissional, ter conhecimentos técnicos, dons, talentos, habilidades e capacidades bem desenvolvidas.

Aí a busca começa. E junto disso tudo, me acontece algo que eu simplesmente não imaginava ter de passar na busca por emprego.

Me indicaram uma agência de recrutamento e seleção que em seu quadro de oportunidades lidava apenas com empresas japonesas. Eu sou mestiça e muito da minha criação traz enraizada a cultura e costumes japoneses. Achei que teria boas chances de conseguir uma oportunidade, uma vez que na cultura japonesa existe uma cuidado muito grande com regras de etiqueta social e profissional que eu conhecia como : existe organização para tudo, protocolo, etc.

Lá fui eu com meu currículo. Estava no 1º ano de Publicidade e Propaganda com ênfase em Gestão de Negócios.

O escritório era simples e bem pequeno. Eis que sou recebida pelo recrutador, um senhor muito bem vestido que me cumprimenta segundo a etiqueta japonesa. Levantando e se curvando. E eu correspondo imediatamente.

E é a partir daí que começa a sessão de assédio moral mais insana que eu pudesse imaginar na minha vida.

  • RECRUTADOR: “Olá Tatiane, tudo bem? O que você faz aqui?”
  • Tatti: “Olá Sr.X. Eu estou aqui para buscar uma oportunidade de estágio ou emprego.”
  • RECRUTADOR: “Uhn , observei seu currículo. Você estuda Publicidade e Propaganda né? Porque você você faz faculdade?”
  • Tatti: “Eu escolhi PP porque é um curso que me permite trabalhar comunicação de forma escrita e artística, sou bastante criativa e acredito que trabalhar nesse segmento será meu caminho no futuro.”
  • RECRUTADOR: “Tatiane, não sei quanto você paga pela sua faculdade, mas você sabendo disso faça uma conta e repense: você PODE PEGAR ESSE DINHEIRO e investir em outras coisas , uma carro, roupas…(OI?????)
  • Tatti: “Então rs ( eu ri mesmo) , eu gosto da minha faculdade e quero estudar, é uma ESCOLHA mesmo.
  • RECRUTADOR: “Mas você , ESTUDAR PARA QUÊ??? É MULHER,tão bonita, não precisa ficar trabalhando, se sujeitando … “
  • Tatti: “Olha eu não penso assim. Não quero viver acomodada entende? Então, tem alguma oportunidade de estágio nessa minha área?”
  • RECRUTADOR: “Sim sim, vamos lá. Você gosta de café?”
  • Tatti: “Sim,muito!”
  • RECRUTADOR: “E você sabe que existe tipos de café né? Tem cafézinho servido no copinho plástico, simples coado. Tem café de máquina , grãos moídos na hora e tem também cafés gourmet…. “
  • RECRUTADOR: “… e nas empresas, é preciso ter alguém que saiba e entenda essas diferenças. Que saiba como “servir” compreende?”
  • Tatti: “Uhn… como assim?”
  • RECRUTADOR: “Então Tatti, você por exemplo. Linda, alta, mestiça. Ficar estudando para ganhar um MISÉRIA? Você pode muito mais que isso. Olha, você pode ser uma “espécie” de secretária executiva. Mas seu papel nesse cargo é apenas de servir diretores. Você e o “café”. Entendeu?”

Você não conseguem imaginar o que eu senti naquela hora.

Eu fiquei muda. Sem saber o que dizer. Paralisada, ouvindo aquele homem falar, como se eu fosse um objeto sexual. Não bastou ele DIMINUIR e INFERIORIZAR minha capacidade intelectual, ele se sentiu a vontade para ir além e me propor ser GAROTA DE PROGRAMA!

Eu me levantei, puxei o currículo que estava nas mãos desse ser, e saí correndo de lá. Apavorada. Voltei para casa e durante todo o trajeto não conseguia falar nada. Me senti horrível, triste, machucada, traumatizada com o que escutei naquele lugar.

Assédio Moral

Embora nesta circunstância o assédio não tenho sido exatamente no TRABALHO ( mas na busca dele ) cito como exemplo pois ele esta diretamente ligado a esfera profissional. E se eu sofri esse tipo de assédio na busca pela oportunidade profissional, imaginem o que seria trabalhar em uma dessas empresas?

ASSÉDIO MORAL

É toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, escritos, comportamento, atitude, etc.) que, intencional e frequentemente, fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.

As condutas mais comuns, dentre outras, são:

  • Instruções confusas e imprecisas ao(à) trabalhador(a);
  • Dificultar o trabalho;
  • Atribuir erros imaginários ao(à) trabalhador(a);
  • Exigir, sem necessidade, trabalhos urgentes;
  • Sobrecarga de tarefas;
  • Ignorar a presença do(a) trabalhador(a), ou não cumprimentá- lo(a) ou, ainda, não lhe dirigir a palavra na frente dos outros, deliberadamente;
  • Fazer críticas ou brincadeiras de mau gosto ao(à) trabalhador(a) em público;
  • Impor horários injustificados;
  • Retirar-lhe, injustificadamente, os instrumentos de trabalho;
  • Agressão física ou verbal, quando estão sós o(a) assediador(a) e a vítima;
  • Revista vexatória;
  • Restrição ao uso de sanitários;
  • Ameaças;
  • Insultos;
  • Isolamento.

Fonte: Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT)

Falar sobre esse assunto é muito importante e necessário.

Assédio Moral

Todos, e não apenas as mulheres precisam estar cientes sobre práticas abusivas ( que às vezes aparecem de forma “sutil” no cotidiano profissional ) Já vi histórias de amigas que se sentiam muito mal com alguns comportamentos dentro da esfera corporativa e não sabiam se valeria a pena resolver ou continuar como está.

Não dá para permitir que esse tipo de postura continue. Alguns dos fatores citados acima podem ser resolvidos internamente de maneira mais simples ( isolamento , insultos isso tudo deve ser conversado abertamente para que não ocorra no ambiente profissional) e outros assédio precisam ser denunciados.

Entender sobre o assunto, conhecer formas de se informar sobre o tema é muito  importante e por isso falo nisso.

Você já viveu ou conhece alguém que passou por algum caso de assédio moral? Sabe onde e como procurar ajuda e informações sobre o assunto?

E se faz sentido para você, convide mais pessoas para ler sobre o tema. Dialogar ajuda a pensarmos formas de combater essas práticas!

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