O que é inovação?

O que é Inovação?

Inovar é um dos processos mais complexos e necessários encarados pelo mercado. Segundo Leandro Carioni, diretor do centro de Empreendedorismo Inovador da Fundação Certi, o processo por si só é arriscado, em mercados maduros o índice de falha é de 80%, no Brasil chega a 90%, contudo, aponta ele: “uma revolução não se faz com um homem só, e inovação é revolução”.

Para ele, mesmo enfrentando várias intempéries, temos um futuro prospero pela frente, para chegarmos a ele é preciso alguns ajustes e algumas mudanças culturais como aprendermos trabalhar em equipe e firmar mais parceiras entre empresas e universidades.

Confira na entrevista as percepções e análise do especialista sobre a inovação.

“Uma revolução não se faz com um homem só e inovação é revolução. Eu vejo coisas extraordinárias que são abandonadas no meio do caminho, não por querer desistir, mas por falta de incentivo.” – Leandro Carioni

 

O que é Inovação?

Você está produzindo algo de uma maneira, de repente alguém inventa uma maneira completamente diferente da que você faz e a substitui e com isso gera mais valor. Ao passo que esta substituição se dá por completo, ou seja, ela não está apenas nas cabeças das pessoas, ela se dá no mercado, ela é aplicada.  Este ‘movimento’ é o elemento chave da inovação, isto é, um processo que substitui uma maneira die se ver (atual), mas que é aplicado no mercado e por isso ele gera poder econômico.

É possível fazer inovação sozinho?

Inovação é algo que não se faz sozinho, porque há muitos conceitos, muitas competências e é raro alguém tê-las sozinho; inclusive uma empresa, ela sozinha para manter uma estrutura com todas as competências necessárias à inovação gastaria milhões. Por isso é mais “fácil” inovar fazendo parcerias. Inovar é um processo integrador que modifica paradigmas anteriores, isto é, promove uma mudança completa em um processo, serviço ou produto e dá retorno financeiro ou social.

Segundo o manual de Oslo qualquer produto que é lançado no mercado é uma inovação! Você concorda com esta afirmativa?

Ela não está completamente equivocado, um exemplo que sempre vem no estudo de inovação é o forno de microondas. O produto surgiu durante a segunda guerra mundial e ao final dos anos 40 foi direcionado ao mercado, porém ninguém o comprou. É inovação? Talvez. Entretanto foi só na década de 70 que o produto causou impacto no mercado. Logo, ele foi uma invenção que se transformou em um produto; foi para o mercado e foi sendo testado e se adequando até haver a grande inovação que promoveu o impacto, principalmente econômico, que aconteceu apenas na década de 70. Então, Oslo está correto em dizer que é um produto no mercado, mas ele tem que produzir impacto. O impacto é fundamental. Portanto, nem sempre quando você insere um produto no mercado ele de fato pode vir a tornar-se uma inovação. Todavia, temos o iPhone, como exemplo contrário, pois antes mesmo de ele estar no mercado já causou impacto. Obvio, com o processo de comunicação fica mais fácil identificar necessidades não atendidas, e fazer um produto nesta linha. Podemos descrever que a inovação trabalha em meio a um processo darwiniano, quer dizer, evolução continua das coisas; lança um produto no mercado e vai adequando até que ele cause algum impacto.

Inovação é um processo constante?

Acredito que as inovações são como degraus, você lança um produto e vai melhorando até chegar a próxima etapa dele. Como exemplo temos o telefone. Durante décadas ele veio se adequando, ou seja, vimos uma evolução gradual na mesma tecnologia até a evolução do telefone celular, que começou grandão e foi melhorando até chegar aos smartphones, aí o telefone deixou de ser um telefone. Logo, é um processo de inovação incremental: incrementa aquilo que existe e vai o aperfeiçoando. Neste contexto, também temos a inovação radical, isto é, ela muda completamente a maneira ao qual você vê um produto ou um negócio.

Segundo a lei da inovação 10.973/04 a introdução de novidade ou aperfeiçoamento de uma ideia no ambiente social ou corporativo é considerado uma inovação. Qual sua avaliação sobre a lei?

Inovar precede três elementos: processo de integração de competências que faz algo novo (novidade) aplicado ao mercado. Então se não há um destes três elementos, no meu ponto de vista não é inovação, pode ser invenção, mas ainda não é uma inovação. Por isso a importância da lei. Ela tem uma obrigação de causar algum impacto, seja reduzir impactos negativos e promover impactos positivos. Podemos avaliar que se você tivesse a ideia e ela apenas ficasse em sua cabeça, não haveria impacto algum, o impacto se dá a partir do momento em que se aplica. Então, a lei de inovação ela investe neste sentido; primeiro normatiza e depois incentiva a inovação  para que dê um impacto positivo na economia brasileira.

Muitas empresas auto intitulam-se inovadoras, o ‘título’, segundo alguns profissionais, é usado de maneira banal pelas empresas devido ao seu peso estratégico. Como você vê esta questão?

Inovação, no meu ponto de vista, precede fazer algo que gere valor. Hoje vemos muitas empresas que compram produtos chineses anexam seu logo e, com isso, alegam ter um conceito inovador, todavia isso não existe, ela não está produzindo, na verdade ela não é nem uma empresa de tecnologia é uma de comércio aplicando uma pequena adequação que na verdade não tem nada de inovação. O termo inovação é o termo da moda.  Muitas empresas querem se colar ao rótulo como se fosse sinônimo de qualidade, de visão de futuro. O que não deixa de ser, mas realmente não há uma prática nas empresas brasileiras, de que as organizações estão focadas em inovações. Elas valem-se de produtos que foram inovações em outros países, alteram algumas coisas e se dizem inovadoras. Este é um padrão existente no País.

Outro padrão conhecido é o processo de inovação por meio de um de serendipitias, ou seja,  a partir de um estudo específico descobre-se a solução a outro problema. Podemos usar como exemplo o viagra, era um remédio para o coração que solucionou a disfunção erétil. Isso algumas empresas brasileiras estão fazendo. É uma inovação acidental. Nos EUA, eles fazem isso muito bem, porque têm um processo para descobrir serendipitias, para fazer a inovação acontecer, lá o processo é exponencial, aqui ainda acidental.

Temos, por outro lado, as organizações que realmente possuem um processo de inovação. Estas empresas têm uma equipe que trabalha nisso, olha pra fora pra trazer ideias. Logo, vejo isso como parte de um mercado em amadurecimento.  As empresas brasileiras dizem que cerca de 90% de toda a inovação no mercado brasileiro falha, quer dizer, há um alto risco em inovar. Porém, quando você vai a mercados maduros 80% falha. Logo a inovação por si só tem um altíssimo risco. O que nós precisamos é fazer alguns ajustes culturais e de processo para que de fato tenhamos empresas inovadoras. Contudo, no meu ponto de vista, ainda estamos aprendendo, estamos no início da onda. Hoje não podemos dizer que temos grandes empresas inovadoras. Temos sim, mas a grande maioria ainda é pequena.

“Acredito que as inovações são como degraus, você lança um produto e vai melhorando até chegar a próxima etapa dele.”  – Leandro Carioni

Por que é tão importante para as empresas inovar?

Analiso da seguinte forma, primeiro: empresas inovadoras têm altíssimo valor agregado, isso significa que elas geram muitos impostos. Quer dizer, uma empresa inovadora tem um faturamento muito maior que as empresas não inovadoras. O produto dela gera mais valor, à organização e ao país. Segundo: ela tem um posicionamento melhor no mercado e é mais competitiva. E se ela é mais competitiva, acaba transformando seu entorno. Por exemplo, quando uma empresa está indo para algum lugar no país, ela visualiza onde estão ocorrendo as coisas novas. É isso que elas estão buscando hoje. Aqui (Florianópolis), nós possuímos várias corporações investindo. E para as grandes indústrias isso é importante. Elas precisam aproveitar um pouco dessa cultura inovadora.  

Florianópolis é uma das cidades mais inovadoras do país?

Florianópolis foi destaque na revista Exame como uma das cidade mais empreendedoras. Mas é o empreendedorismo inovador,  não é o empreendedorismo puramente de fazer um carrinho de cachorro quente por exemplo, é o empreendedorismo diferenciado de empresas de alto valor agregado, altamente competitivas, altamente geradoras de emprego e altamente geradoras de receita para o Estado. Este é um impacto econômico pontual. Outro impacto é o social, que por exemplo, a inovação feita por uma empresa reverte em benefício à população. Então a inovação reverbera em um impacto absurdo em termos sociais, evitando mortes, diminuindo custos e proporcionando melhor qualidade de vida.

Temos exemplos concretos destas empresas?

Temos empresas como a Nano Endoluminal que trabalha na criação e aperfeiçoamento de stents para o coração. O que a empresa fez com o desenvolvimento desta tecnologia foi evitar inúmeras mortes devido à cirurgias complexas e diminuir custos. Quer dizer, antigamente era preciso importar o equipamento, o SUS não conseguia pagar e havia todo o processo cirúrgico extremamente delicado que foi evitado por esta inovação. Além disso, há vários outros casos de sucesso apoiados pela Certi por meio da Sinapse da Inovação, um modelo de jogo que estimula a inovar, e o mais importante financia boas ideias. Até hoje o Sinapse já viabilizou 300 empresas, que juntas faturam cerca de 120 milhões e geram cerca de 1.200 postos de trabalho.

Segundo pesquisa realizada pela SocialBase, 64% dos jovens (nascidos a partir de 1982) salientam que as empesas precisam investir mais em inovação. Como você analisa o número?

A inovação é um elemento que hoje pode ser um diferencial, mas futuramente pode ser um requisito, quer dizer a empresa que não inova está fora. Por outro lado, é preciso avaliar o lado da empresa. Muitas vezes não é feita a inovação, porque as empresas não tem segurança jurídica. Que isso quer dizer? Ainda não está claro, por exemplo, se ao fazer uma parceria com a universidade de quem será o produto. Meu ou da universidade, uma vez que é dentro da universidade que está a geração do conhecimento. E isto não está claro. Agora se avaliarmos um processo de inovação que leva 10 anos de investimento, e outros 10 discutindo de quem será o produto, no final quem ganhar terá prejuízo, porque este produto não vale nada, já foi substituído. Logo, temos este elemento muito complicado.

Outro problema é a carga tributária, por exemplo nos EUA a carga é de 12%, a nossa é maior que 20. Logo, quanto maior é a carga tributária, teoricamente menor é o potencial de investimento. Embora, a lei 10.973 esteja trabalhando para modificar esta realidade e venha evoluindo bastante, ainda existe uma carga muito forte. Além disso, o que aumenta o risco de inovação é a cultura, estamos aprendendo muito. Vejo isso com bons olhos, mas ainda há um estigma sobre quem monta um empresa inovadora e faliu. Ainda não valorizamos este profissional como deveríamos. Nos EUA, na Alemanha e em outros países este profissional é muito valorizado, porque o aprendizado que ele obteve com esta quebra é muito valiosa. Estamos começando a inverter essa cultura do não vai dar certo, para a cultura do vai dar certo, você errou, mas você vai acertar da próxima vez.  Este é o caminho.

“As empresas brasileiras dizem que cerca de 90% de toda a inovação no mercado brasileiro falha, quer dizer, há um alto risco em inovar. Porém, quando você vai a mercados maduros 80% falha. Logo a inovação por si só tem um altíssimo risco.” – Leandro Carioni

Da concepção da ideia até a construção do produto ou serviço, tido como inovador, como a empresa deve trabalhar este processo?

Não uma resposta única e é bastante complexa, porque estes passos ideais envolvem várias coisas ao mesmo tempo. Envolve, por exemplo, uma jornada que a empresa tem que ter em termos de tecnologia, isto é, a empresa tem que ter conhecimento que ela desenvolve um produto; testa, se deu certo volta; melhora e vai montando. Esta é a jornada tecnológica.

Há um jornada financeira. Essa jornada financeira, geralmente, começa com dinheiro próprio, com dinheiro de família. Há também o apoio da Fapesc da Finep colocando dinheiro nas empresas com foco no desenvolvimento tecnológico de produto. Além disso, com o andar da empresa é preciso chegar a uma rede, que ainda não temos, que são de financiadores – aventure capital e anjos. Cronologicamente teremos o primeiro investimento familiar, e na sequência o investimento de terceiros. Depois disso há outros meios: bancos, grandes clientes e etc. Esta é a jornada financeira.

A terceira é a jornada de mercado. É preciso definir qual mercado atender. Vou colocar em um mercado depois vou alocar em outro. Há o microondas como exemplo, que de arma de guerra foi direcionado a um mercado totalmente diferente e só aí que ele deu certo. Então é isso que precisa-se buscar, novos mercados.

E por fim, tem-se a jornada do empreendedor. Ao se ter uma ideia, o primeiro passo é buscar conhecimento, ou seja, capacitação. Em seguida, em poder do conhecimento e da ideia é preciso transformá-los em um produto. Aí com isso é preciso saber em que mercado atuar. Então, o empreendedor, que é a gasolina de tudo isso, ele também tem uma jornada de capacitação. No meu ponto de vista o sucesso de uma empresa está em seguir estas jornadas: conhecimento, tecnologia, produto; mercado, ou seja, onde vou desenvolver; Jornada financeira e como eu vou me capacitar.

Michael Glessner defende que as empresas invistam em inovação aberta, como você vê este compartilhamento de informação entre empresas?

Há a possibilidade e é algo que a gente pratica no dia a dia. Acho que é fundamental pra fazer a máquina andar, se diminui tempo e agrega-se parceiros. Avalio no Brasil essa como uma solução. Mas o Brasil precisa aprender a trabalhar em equipe, pois por mais social que o brasileiro seja, ele trabalha muito pouco em equipe. As empresas fazem muito poucas colaborações, as universidades fazem muito poucas colaborações. Até mesmo dentro dos departamentos não há colaboração. Logo, o que precisa-se para promover a inovação aberta, que é fundamental para o conceito, é trabalharmos juntos. E, a partir daí ter uma base jurídica sólida e rápida para que haja segurança nos investimentos.

As empresas e as universidades precisam se aproximar mais?

Eu acho que o país todo está despertando pra isso. Nós temos universidades que desenvolvem coisas incríveis, mas elas não saem dos campus e força o mercado a comprar este produto, que temos pronto aqui, lá na China. Isso é um tiro no pé. Com isso temos uma balança comercial desfavorável e pouco dinheiro pra investir, inclusive no social. Então, ou andamos por este caminho de parceira, ou temos que “fechar o Brasil”. Precisamos fazer esta integração. Porque hoje as universidades fazem o papel delas de maneira excelente. Mas é preciso fazer mais, elas precisam produzir paper, é necessário continuar a produzir tecnologia e as empresas têm que colocar isso no mercado. O que esta faltando é está ligação entre um e outro, ou seja, são disposições transitórias; as duas estão fazendo os seus papéis, mas precisamos descobrir como fazer essa transição entre elas. A lei tenta fazer, precisamos trabalhar mais culturalmente. Estamos iniciando. A “coisa” vai acontecer.

Este é um conteúdo em parceria com o Cultura Colaborativa

 

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